"A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável" ( Gandhi)

domingo, 18 de julho de 2010

Um reflexo em meu olhar.




Meu corpo havia sofrido um grande choque. Não tinha inspiração para nada, passaram-se noites, dias, e nada, nenhum texto nenhuma música. Não conseguia mais ver aquele outro lado, o lado bobo e feliz que antes sentia. Antes quando as coisas pareciam um pouco diferentes destas como estão. Mas eu não podia, não novamente, não queria apelar para minha autoflagelação, mas precisava naquele instante sentir, qualquer coisa, mesmo que doesse era a minha dor e não a de outrem. Eu precisava e iria em frente se preciso fosse. A decisão veio, minha mãe estava em casa, esperei ela dormir, não queria compartilhar aquele momento com mais ninguém. Abri minha gaveta, pensei um pouco, dessa vez seria diferente, nada de músicas apelativas, nada de cigarros, nem mais um drink, iria sentir a dor estando sóbria. Fechei a porta e respirei fundo, minhas mãos estavam tremendo. Como eu poderia saber o que sentia se naquele momento eu estava longe de mim, alguém que não era eu, talvez fosse minha psique tentando mostrar que algo estava errado, não no mundo, mas em mim. Olhei para meu braço e fiquei pensando onde deveria cortar. Peguei a gilete sutilmente e fiz um corte raso, de modo que ardesse, e queimava... Olhei para o espelho e vi um brilho diferente em meu olhar, outros princípios se fizeram presentes, como se houvesse um reflexo em meu olhar e esse reflexo refletisse outro ser, outra pessoa trancafiada em meus pensamentos, talvez fosse o meu ego falando mais alto, como se quisesse chegar à frente de meu espírito, talvez, se essa fosse a intenção, poderia dizer que ele conseguiu. Agora, sem medo, fiz cinco cortes um pouco profundo, mas não estava doendo tanto, não satisfeita fiz mais cinco abaixo destes e com a gilete fiz uma divisória, separando os dois conjuntos de cortes. Decidi unir os cortes de cima com os de baixo, porque nunca estava bom, e minha dor era demasiadamente intensa, não a dos cortes, mas a do meu espírito, cansado, mas o meu ego, que mais se pode dizer de egoísta, jamais esteve assim do meu lado, e sim ocupando meus pensamentos e minhas ações. Estava sangrando, mas isso não me importava, continuava passando a gilete nos cortes já existentes, o sangue estava escorrendo sobre o meu braço e a sensação que me propiciava aquele momento era indiferente. Não sabia mais o que era certo, mas gostava de ver aquela cor intensa e vermelha saindo de mim, não conseguia desviar meus olhos, e eu via escorrer até chegar a minhas mãos, estava quente, como se fosse vivo. Vida saindo de minhas mãos, escorrendo sobre o chão, vida sendo desperdiçada, vida que doía mesmo estando morta. Não sei por que, mas eu sorria e sentia uma vontade insana de mostrar aquilo a alguém, então me olhei mais uma vez no espelho, e não mais vi o seu reflexo, agora era apenas eu e minha estância de vida. E ia sumindo, toda aquela dor ia desaparecendo feito fumaça, as palavras ressoavam em minha cabeça, “missão cumprida”, mas eu sabia que nada havia sido feito, apenas adiado para outro momento.

Texto adaptado,
Uma noite - por Thay.
http://forevernever-friends.blogspot.com/

2 comentários:

Neko disse...

Voce some, ou que me perco ?

Neko disse...

Aparece de novo ?
me liga, perdi teu numero...