"A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável" ( Gandhi)

domingo, 9 de janeiro de 2011

O que havia dentro de si.




Como se fosse algo de estranha importância para mim, ela me olhava, sem dizer palavra alguma. Talvez, assim como as palavras a fizeram, ela estaria tentando neste momento me desmistificar, arrancar algo de mim, mas acredito que ela queria mesmo que eu falasse. Ela não queria saber o que tinha em mim, o que eu estava pensando naquele momento, apenas queria que eu falasse sozinha, sem pedidos ou nada em troca. Queria ver a reação do outro e nela tirar suas conclusões de si mesma. Deixei o livro sobre a escrivaninha, mas ela ainda parecia me olhar. O que seu retrato falaria? O que tentaria demonstrar? Ela era tão simples, mas tão única, estranhamente enigmática. E eu me flagro pensando, o que havia dentro de si?

A ela, Clarice.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

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Ontem, véspera de ano novo, o dia transcorreu como um dia qualquer para mim, acho que não estava me dando conta de seu real significado, de sua grande importância em nossas vidas. Aquilo parecia mais um dia de festa, certo que em festas temos o direito de estarmos felizes e de nos divertirmos, mas eu estava me divertindo, qual seria o estranho motivo de minha felicidade, pelo fato de ser sexta-feira e depois sábado? É, deveria ser. O fato é que me diverti, fiquei feliz como há muito tempo não tinha ficado, e sentia todo aquele mar transbordando sobre mim, toda aquela pulsação; vozes, olhares, abraços, muitas risadas e sorrisos silenciosos, trocados sem uma palavra. Enfim, todos ali sentíamos que havia algo de extraordinário para acontecer, uma explosão nos céus que nos mostrasse a beleza daquele segredo, de que as estrelas poderiam sim cair sobre nós, e que de fato somos estrelas que brilham incessantemente e cujo o brilho não é mais do que um artifício de encantamento para com nós mesmos. Sim, queremos brilhar, queremos crescer, existir para o mundo e cultuar a vida.
Aquele momento era um presságio do que viria pela frente. Fogos estouram nos céus, luzes de todas as cores irradiam sobre nossas cabeças, e outro dia começa, ou melhor, outros dias que hão de vir. Fico contente por estar ali rodeada de pessoas, umas importantes, outras nem conheço, mas meu coração é bem maior do que aquilo, acredite, tenho lembranças em minha mente que são conservadas, outras apenas invenções, mas as guardo e as respeito. Já em minha cama, me deito e tento me lembrar de como fora o dia, um processo que costumo fazer pela força do hábito, além disso, me ajuda a dormir. Gosto de tentar organizar as lembranças em ordem cronológica, como foi meu dia? Bem, no final tenho uma ideia do que fiz e deixei de fazer. Durmo, na tentativa de resgatar forças para o meu corpo e minha mente cansada. Não me lembro muito bem com o que sonhei, e isso, acho que só importa a mim.
Acordei um pouco tarde, assustada, atônita, parecia-me que havia corrido por muito tempo, estava sem fôlego e tentando compreender o que se passava. Meu despertador toca, eis a resposta, não havia mais Ano Novo, e sim Ano Presente, eu já estava nele, sendo carregada para outro Ano, nunca o mesmo. Dou conta dos meus medos e minhas angústias, elas só apareceram agora quando percebo que realmente era verdade. Um recomeço para os heróis que travarão uma luta para viver novos dias, mas, porém, uma maré de inseguranças para aqueles que buscam apenas ver a vida passar sem dar-lhe a sua devida importância. Paro por um instante, quem seria eu, o herói ou o covarde? Confesso que gosto da fama de heróis, das suas lutas em que arriscam suas vidas. Sim, eu queria ser o herói, para mim estaria ótimo. Enchi meus pulmões de ar e me inclinei um pouco para frente, sim, eu seria.
Tomei a certeza nesse momento de que me fiz forte para suportar as dores, resguardar meus medos e descobrir novos desejos e paixões. Lutarei por aquilo que necessito, pelo que achar certo, pelo amor ainda que inventado e por essa estranha vontade de viver e descobrir os segredos da vida, descobrir meus segredos ainda distantes de mim. Naquele momento me senti grande, não cabia em mim e não sabia se devia sorrir ou chorar, gritar ao mundo que estava viva. Descobrir-se é o maior dos mistérios, mas acredite, não há segredos para o tempo e nem mesmo para a vida, e dentro de você sempre haverá vida, às vezes precisamos apenas nos dar uma chance.