
Eu guardo um grito rouco para te dar, mas me encontro sem condições de o fazer. Minha voz está rouca, o ácido à tempos vem corroendo minha boca e queimando em meu estômago. Meus olhos ardem, ardem como se o ar os irritasse, como se essa atmosfera infectada de podridão também os queimasse. E como se fosse loucura, finjo gritar roucamente para ti, mas onde está a voz, eu mesma não a ouço. Observo o dia com a calma de quem está somente de passagem e não presto muito atenção nos detalhes, assim finjo a nada me importar. Mas tudo me comove, e é um buraco sem fundo, há somente o início. Tenho a certeza do teu toque, da entonação da tua voz e do teu olhar fixado em uma parede fria e branca. Observo calmamente o desenrolar do desfecho sem incrementar-lhe um ponto final. Preferia antes uma interrogação, de história não terminada, de missão não cumprida, pois a história é grande, imensamente grande, e nunca morre, e a insatisfação é um sinal de vida. Não vejo graça na satisfação, na resignação, prefiro teu ser insatisfeito que espera mais de cada dia, ah, eu também espero. Mas não aguardemos sentados. Vá correndo, pulando, brincando, sentindo as cores e marcas da vida.
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